Maconha Medicinal: De Mocinha A Vilã, A Reviravolta de uma Planta Estigmatizada – História, Ciência e Esperança

Muito tem se ouvido falar sobre a Cannabis, hoje com os holofotes virados a ela, já se consegue enxergar uma saída para problemas ou condições onde os alopáticos/opioides não surtem efeitos.
Mas para entender um pouco sobre como a “mocinha” virou a “vilã” e está virando “mocinha” novamente, permita-se livre de preconceitos ou tabus impostos pela sociedade a estudar a história da Maconha, sim, Maconha, pois a Cannabis cientificamente chamada de Cannabis Sativa Linnaeus (Cannabinaceae) e popularmente chamada de Maconha, Ganja, Erva, Maria Juana, Diamba, Liamba, Riamba, Pango, Fumo de Angola, Erva de Santa Maria são a mesma planta.
Em 2737 AC o imperador Shennong, cujo nome significa literalmente Divino Agricultor, foi um lendário governante e herói chinês. Shen Nong supostamente ensinou aos antigos chineses não só as suas práticas de agricultura, mas também o uso de medicamentos à base de plantas e receitava chá de Maconha para o tratamento de Gota, Malária, Reumatismo e Memória Fraca.
A popularidade da Maconha se espalhou rapidamente pela Ásia, Oriente Médio e Costa Oriental da África onde foi amplamente utilizada em cultos religiosos; A prescrição da Maconha era muito utilizada para diversos fins que relatam de uma simples dor de cabeça até dores de parto. Entrando para a Farmacopeia através do Médico Pedânio Dioscórides em sua obra “De Materia Medica” que continha as informações das plantas medicinais desde o início do século I até o século XVIII. Na obra Dioscórides cita a Maconha para tratamento de dores articulares e inflamações.
Após séculos de uso da Maconha para fins medicinais um relato registrado em 1464 em Bagdá já começa a chamar a atenção, Ibnal-Badri, poeta, administrou Maconha em seu filho com Epilepsia controlando suas crises. Dentre muito outros relatos destaco outro do Médico Willian O´Shaughnessy, que após passar uma temporada na Índia, publicou um importante artigo em 1843 sobre a Maconha, o artigo lista experiências com o extrato da planta nele, em outros humanos e em animais, a partir das recomendações através dos resultados das próprias pessoas. Foi o responsável por expandir a Maconha na Europa naquele período.
Trazida ao Brasil pelos escravos vindos da África em bonecas amarradas em suas roupas, as primeiras sementes chegaram por aqui por volta de 1549, sendo utilizadas unicamente pela população negra onde relatos mostram a utilização de Maconha infusionada como tratamento de Asma, Dores de Cabeça e Estômago.
O primeiro país a proibir a Maconha foi o Brasil, instaurada em 1830 na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a Lei do Pito do Pango entra em vigor penalizando “escravos ou outras pessoas” com três dias de cadeia e chicotadas todos que fossem pegos utilizando Maconha, porém nos boticários da classe branca onde era vendida livremente, se pegas em flagrante pagariam apenas uma multa.
A maconha foi incluída pela primeira vez em convenções internacionais sobre drogas em 1924, num encontro da Liga das Nações – entidade anterior à ONU. No Brasil, a proibição em nível federal aconteceria em 1938, durante a Ditadura Vargas, por meio da Lei de Fiscalização de Entorpecentes.

Com leis que restringiam ou proibiam a prescrição, sob pena de prisão inclusive para médicos, o uso medicinal foi desaparecendo na Europa e nas Américas. Em 1942, a Cannabis foi excluída da farmacopeia americana.
A guerra contra essa planta foi motivada muito mais por fatores raciais, econômicos, políticos e morais do que por argumentos científicos, visto que William R. Hearst, proprietário de vários periódicos nos Estado Unidos inicia em 1930 as primeiras campanhas proibicionista baseadas em noticias falsas afirmando que a Maconha era ”Cigarro do Diabo” utilizando a Maconha como símbolo da contracultura do homem de bem, associando a Maconha à violência e a população marginalizada pela sociedade.
Em 1937, Harry Anslinger, chefe do DEA com o apoio financeiro de indústrias farmacêuticas fomentou ao congresso uma Lei de Imposto Sobre a Cannabis, inviabilizando seu uso medicinal e industrial. Sem argumentos científicos e contra a Associação Médica Americana que afirmou que não existi provas que a Maconha fosse uma droga perigosa, Anslinger convenceu o congresso a proibi-la com uma afirmação totalmente infundada de que a Maconha é uma droga viciante, que produz em seus usuários insanidade, criminalidade e morte, e fazia com que mulheres brancas tivessem relações sexuais com negros.
Refletindo a ignorância aqui no Brasil nas palavras do Dr. Rodrigues Dória que afirmou que o ato de fumar maconha é uma espécie de vingança de negros selvagens contra brancos civilizados, que os haviam escravizado ou nas palavras do Dr. Pernambuco Filho em que afirma que a Maconha é mais perigosa que o Ópio.
Após muitos anos de lutas estamos conseguindo chegar a um porto seguro onde estudos científicos e grandes nome da atualidade trazem para à tona toda a verdade sobre a Maconha, estudos ligados a área da Saúde já ultrapassam milhares em que comprovam a melhora ou a aumento da qualidade de vida e de perspectiva da população.
O sistema Endocanabinóide, descoberto em 1964 estudado profundamente pelo Dr. Raphael Mechoulan. Responsável por regular processos fisiológicos, como apetite, dor, inflamação, termorregulação, pressão intraocular, sensação, controle muscular, equilíbrio de energia, metabolismo, qualidade do sono, resposta a estresse, motivação/recompensa, humor e memória o sistema endocanabinoide é fundamental em nossa saúde agindo como um regulador de todos os nossos sistemas.
Nomes como Padre Ticão, Dr. Elisaldo Carlini e Sidarta Ribeiro disseminam informações verdadeiras e impulsionam a Maconha medicinal no Brasil levando as informações verdadeiras e desmistificando as informações mentirosas sobre os fitocanabinoides, a junção deles agindo em nosso corpo, o efeito Entourage, o uso da Maconha para fins Medicinais.
Hoje contamos com todas as Associações espalhadas pelo Brasil que fazem um trabalho magnífico entorno da Maconha Medicinal, da Reparação Social e Histórica da Maconha e do acolhimento individualizado da população, onde todos tem o direito de ter o acesso a esse tratamento, pessoas com condições financeiras ou não, aqui em Itupeva contamos com a Associação OSACI (Organização Social de Apoio À Cultura de Itupeva) atendendo toda a região, levando informação, formação e saúde para mais de 500 associados.
Em 2024 muita história ainda será concretizada na evolução do processo de descriminalização e legalização da Maconha, e todos nós temos o direto de se informar e se manter informado com saúde e qualidade de vida.
Piero Rodrigo Bonini – Diretor de Comunicação da OSACI

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